O tempo anda bastante dilatado e isso não tem nada a ver com o meu humor. Meu raciocínio não se mostra em um tempo verbal específico, ele não me coordena de forma regente, ele flui de forma caudalosa, sutil e perceptível.
Eu procuro uma disciplina que pareço ter, mas que nunca se perdeu, porque jamais existiu, a única coisa que de fato me faz pensar sobre a vida é um você único e pluralizado, do tipo que não se deixa jamais ausentar. Eu é que procuro me ausentar dessa lembrança que, cada vez menos, me faz lembrar do seu nariz, seus olhos, seus cabelos, ou qualquer outra coisa ordinária sua.
Trabalhado com escudo, arco e espada em bainha eu saio procurando os meus dragões/moinhos de vento e talvez isso faça da minha vida uma curiosa comédia espanhola, peninsularmente estranha.
O que haverá além daquele pano branco que se ergue logo ali na frente? Ele que se faz de uma composição de branco com um forte holofote que se põe atrás, dando um efeito de ofuscar olhos curiosos como os meus, mas ainda assim olhos. Olhos de pensamentos com sentidos.
E é um filtro em preto e branco, talvez sépia que me faz erguer o corpo, correr por ruas comuns e antigas; pedindo por liberdade a um exilado que se vê tão distante de sua pena, de sua folha, de seu coração, do pulsar que se faz comum a cada novo instante. E é dificil demais rasgar a pele e mostrar as vísceras e como é mais difícil mostrar isso com sentido, com clareza. Talvez a reunião de adjetivos tenha se tornado insuficiente, e cabe a mim aprender advérbios, sujeitos, objetos. E, talvez, ainda seja insuficiente. O melhor mesmo é seguir e criar minha própria gramática, uma que se faz apenas nos momentos mais inconsistentes e incompreensíveis, porque fazer sentido é uma questão de tempo, uma questão de olhar, uma questão de respirar. Uma questão de essencialidade.