1º Ato: O som do silêncio é uma mistura de tudo que é existente e indefinido, o adjetivo da língua seria infinito.
[corta a cena de tudo para nada, abre o ângulo]
S-A-U-D-A-D-E
Saudade dói demais e eu acho que fazia tempo que não sentia, a saudade que eu digo é a imortal, a gente mata algumas em pequenas doses todos os dias, têm outras que são difíceis de conviver, porque saná-las é praticamente impossível. E o jeito é brincar com elas.
Bate, rebate, quica, mas nunca cai ou para, simplesmente continua como elétron, sem definição de lugar.
É um sentimento de querer um abraço abstrato daqueles que a gente nem percebe o quanto é bom até saber que não o tem e nunca o terá, porque o abraço que você vai sentir já será outro, com outras potencialidades.
Saudade é algo que tem tanto nome que fica difícil escolher um esfericamente completo, saudade é coisa de nossa língua, de nosso povo, coisa do meu coração, coisa minha, que fico em plena madrugada esperando por palavras que estejam simbolicamente bem representadas.
Saudades é lágrima presa, é nó na garganta, é dedos em movimentos agoniados, é lábios ressecados e umedecidos. Sabe o que é saudade? Porque eu não sei! Porque saudade se sente - E como se sente! - de sente de uma forma doída - E dói, só digo isso! - no meu auge de sado-masoquismo não quero isso não!
Mas saudade me dignifica, me mostra quanto mais leal eu sou e quão mais amo os meus. Saudade é o meu nome, saudade é o meu sangue, meu conteúdo mais denso. Saudade sou eu em uma forma inteligível, uma forma inenarrável.
Fecha as cortinas.